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terça-feira, 12 de julho de 2011

A mãe da Maíza é que Conta


 
Quando eu era menina, trouxeram-me de fora, de muito longe, uma boneca diferente das outras, uma boneca especial, que tinha dentro outras bonecas escondidas.
A gente desatarraxava o corpo da primeira boneca e, de dentro dela, aparecia outra boneca. Esta segunda boneca tinha outra lá dentro. Desatarraxávamos a terceira boneca e aparecia-nos uma quarta boneca. Desta quarta boneca... - Uf! Não vale a pena continuar, que já avaliam o que a quarta boneca trazia dentro. E por aí fora, por aí fora...
Diante dos meus olhos de menina, a minha mãe explicava-me, apontando-me a boneca maior:
- Faz de conta que esta é a tua bisavó. Lembras-te da tua bisavó Esmeralda? A tua avó velhinha, como tu lhe chamavas, mas, aqui, mais nova. Da tua bisavó Esmeralda, nasceu a tua avó Elvira...
E a minha mãe mostrava-me a segunda boneca, escondida dentro da primeira.
- Da tua avó Elvira, nasci eu, que sou a tua mãe...
E a minha mãe mostrava-me a terceira boneca, escondida dentro da segunda boneca.
- Depois de mim nasceste tu, a minha filhinha querida... - continuava a minha mãe.
Eu era a quarta boneca. Olhei para mim, boneca pequena, e achei-me igual às outras, ainda que mais miudinha no tamanho. Quatro bonecas, que tinham saído umas de dentro das outras...
- E depois? - perguntei eu à minha mãe.
- Depois? - sorriu a minha mãe. - Depois... tu saberás.
Já sei agora. A minha boneca chama-se Maíza e está no berço. Dorme.
Quando ela crescer, e de bebé se fizer menina, hei-de contar-lhe esta história de bonecas.
O Peixe Tolo

O peixe-espada gostava de ser espingarda, bazuca, metralhadora... Espada é que não.
- Está fora de moda, nas guerras de agora.
E perguntara aos outros peixes se peixe-metralhadora lhes soava bem. Eles, que o achavam um bacoco peixe taralhoco, diziam-lhe a tudo que sim, mas a rirem de troça. O peixe-espada é que não dava por isso, incorrigível na sua ideia de trocar a espada por arma mais actual. Que grande tolo!
- Quem poderá mudar-me o nome? - perguntava ele, a torto e a direito.
- Talvez a santola saiba - respondiam-lhe, só para despachá-lo.
A santola ganhara fama de sábia, vai-se lá saber porquê. E da fama tirava bom proveito.
Exposta a pretensão à santola, disse-lhe ela:
- Foram os homens que te deram, dantes, esse nome, a condizer com o teu feitio. Não vejo quem mais possa trocar-te o nome senão eles.
Afinal, à santola não faltava sabedoria.
- Então, como é que eu faço?
- Tanto não sei - respondeu a santola. - Não te aconselho a meteres-te numa dessas redes que, de vez em quando, eles lançam, mas a decisão é tua.
Está-se mesmo a ver o que o peixe-espada decidiu. Meteu-se mesmo numa das redes, onde já se debatiam outros peixes, que, evidentemente, ali tinham ido parar de má vontade. Cardumes de carapaus, sardinhas, sardas e chicharros. O único que ali estava muito feliz era o peixe-espada.
- Eles puxam a rede e, chegando lá acima, ao primeiro homem que encontrar exijo que me dê um nome mais moderno. Peixe-foguetão é que estava a calhar-me.
Quando os pescadores puxaram as redes e os peixes e peixinhos começaram a saltar no convés, um dos homens, vendo, no meio deles, o desgraçado herói desta história, exclamou:
- Que belo peixe-espada. É um espadão!
Mas o infeliz já não ouviu o elogio. E, mesmo que ainda estivesse vivo, talvez não gostasse.

António Torrado

Histórias para Crianças

Vamos ler histórias para crianças? Vamos usa-las nas nossas escolas! Vamos ser os autores das nossas próprias histórias!

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